terça-feira, 26 de junho de 2007

Os saberes esquecidos


Vamos ver
os tons invisíveis
que tem o sentimento
Paletas incríveis
de deslumbramento

Ouvir
os sons inaudíveis
que tem a natureza.
Vozes inesquecíveis
de eterna beleza

Sentir
o toque sensual
de alguém imperceptível
Sensação imaterial
de todo o impossível

Cheirar
os aromas exalados
por flores inexistentes
Perfumes sublimados
pelo poder das mentes

Saborear
todo o insondável
das coisas sem sabor
Apetite insaciável
de um mundo de amor

Vamos recordar
os saberes esquecidos
usando a alquimia
dos nossos sentidos
(Ana Janeiro in "Letras Dispersas")

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Letras dispersas


Fogem as letras
cada vez mais dispersas
na mente
fragmentada
tão vazia de tudo
tão cheia de nada

Pedaços de vida
Retalhos de pensamento
A memória ensurdecida
Ecos de silêncio...

Anseios
Devaneios
Vivências
Incongruências

Reticências...

Sem regresso


Chamei-te
Do ponto mais alto da mais alta montanha,
Mas tu não respondeste.

Gritei o teu nome
No sítio mais fundo do vale mais profundo,
Mas tu não ouviste.

Procurei–te
Nos locais mais recônditos das longínquas aldeias,
Mas não te encontrei.

Perguntei por ti
Ao sábio mais sábio dos sábios do mundo,
Mas ele não respondeu.

Entendi
Que não havia respostas para tudo na vida
E que era sem regresso essa tua partida.
Dentro de mim
Ecoavam palavras que não te pude dizer
E navegavam os gestos que ficaram por fazer.
Quando, por fim,
Cessei as perguntas e a indignação,
Encontrei-te alojado no meu coração.

sábado, 16 de junho de 2007


“Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais do que a sua duração medida pelo relógio;
em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo”.
Virgínia Woolf, in 'Orlando'

"Fazer como as estrelas, sem pressa e sem descanso."

Goethe

terça-feira, 12 de junho de 2007

O Tempo que conta

Já não sei há quanto tempo aprendi a ver as horas.
Também não sei o que aconteceu ao meu primeiro relógio.

Mas sei que tinha no centro uma estrela dourada e que sobre essa estrela dourada
podia ver o movimento lento e ritmado dos ponteiros que marcavam a passagem do tempo.

O tempo... o que é o tempo?

Qual será o tempo que realmente conta?

O que nos faz correr de um lado para o outro e que de repente se transforma em passado, mesmo sem termos dado por isso?

Ou talvez seja aquele Tempo em que não há passado nem futuro e em que o presente é o somatório de momentos, instantes que às vezes são breves em termos físicos, mas que podem durar uma eternidade na nossa Mente.
Instantes que dão sentido à vida, que nos fazem crescer e que não podem ser medidos em horas, minutos ou segundos.

Inventem-se, pois, outras unidades para medir o Tempo.

Pode ser um gesto,
uma flor,
um sorriso,
uma lágrima,
uma estrela dourada...

O Tempo da Mente não tem princípio nem fim

É esse o Tempo que conta... para mim!
Ana de Fátima Janeiro (inédito)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Aprender a fingir


No palco da vida
temos um papel
a desempenhar

Dão-nos à partida
o nosso batel
pronto a navegar

O que podemos fazer
depende da idade
e do que é de “bom tom”
para a sociedade

Não é de bom tom
sentar-se no chão,
deitar-se na relva
nem comer com a mão.

Ou andar pela rua
a cantar à lua
e em passo de dança,
se não és criança.

Se esquecemos as deixas
e recusamos as cenas
começam as queixas
e as nossas penas

Já não temos papel
para representar
nem o nosso batel
pronto a navegar

Tiram-nos o barco,
olham-nos de lado,
caímos ao charco.

Temos que sair
a nado e fugir
Ou aprender a fingir.

Os voos da mente


No labirinto sideral
onde voa a minha mente
consigo ver por instantes
um cantinho especial

É um mundo de magia
onde tudo é diferente
o amor e a alegria
são governo e presidente

Para exprimir o que sinto
nessas viagens incessantes
perco-me no labirinto
com os meus voos rasantes

E lá se vai o encanto
já estou noutro lugar
verifico com espanto
que não consigo voar

Neste canto onde entrei
aprendi o que é sofrer
e, se no outro voei
neste saio a correr

Entro então noutra porta
mesmo sem nela bater
e, já que ninguém se importa
fico aqui a viver

Não é um mundo perfeito
este onde vim parar
mas vou arranjar um jeito
de reaprender a voar

Renascer


Nascemos, vivemos,
Dizem que morremos,
Não sei se é assim...

Não será a morte
Simples invenção?
Apenas passagem,
Mudança de imagem,
Nova dimensão?

Se assim não for,
Não quero saber,
Que ninguém mo diga!
Recuso-me a ser
Um computador
Que alguém desliga.

Recuso-me a morrer
Se não acreditar
Que posso renascer
Quando me apetecer

Serei homem, golfinho,
Flor, sereia, mulher...
Andorinha ou verde pinho
Serei tudo o que quiser

Posso andar às voltas
Num renascer sem fim
Mas nunca as pedras soltas
Serão parte de mim

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Pergunto por ti


À luz do sol,
à chuva que cai,
ao vento que passa,
eu pergunto por ti,
mas ninguém responde…

O vento muda,
pára de chover
e até o sol se esconde
para não responder…

Tu desapareceste,
levando o encanto
e toda a beleza
dos dias primaveris

Eu vou perguntando,
a toda a natureza
onde é que tu estás
e se estás feliz.

Vejo os teus olhos
nas águas do mar.
Olho a luz do sol,
vejo-te a sorrir.

É tanta a beleza,
que chego a pensar
que te foste fundir
com a natureza
para poderes brincar.

A busca da verdade

A humanidade
procura a semente
da fertilidade
do primeiro ente

Desde os tempos mais distantes
que o homem quer saber mais
e tem problemas constantes
com crises existenciais

Mas que faria a seguir
se com a constante luta
acabasse por descobrir
a verdade absoluta?

Qual seria o incentivo
para continuar a viver
sem o seu objectivo
de tudo querer saber?

Pensa saber o Homem
que a sua essência é a razão
as dúvidas que o consomem
são sobre a sua missão

Quer saber a Humanidade
com um querer profundo
se existe a eternidade
e como apareceu o mundo

E vai continuar
a procurar
a semente
da fertilidade
do primeiro ente

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Coisas não ditas


São tantas as coisas
que te queria dizer
mas não tenho a certeza
se as irias entender

Poderia falar-te
de desejos secretos
fantasias sem fim
são tantos os segredos
guardados em mim

Viajei por toda a terra
só com o meu pensamento
vi pouco amor, muita guerra
muita dor e sofrimento

Talvez tu vejas apenas
fantasias de criança
mas sonhar faz bem à alma
e alimenta a esperança

Sonhos loucos de voar
andar ao sabor do vento
nos meus braços envolver
todo o mundo num momento

Caminhar sobre os oceanos
com perfume de maresia
fazer amor com as ondas
numa nuvem de magia

Abarcar toda a tristeza
todo o ódio encoberto
sepultá-los lá bem longe
num infinito deserto

Poderia falar-te
de desejos secretos
fantasias sem fim
são tantos os segredos
guardados em mim

Para ti amiga


Hoje escrevi
só para ti.

Fiz esta melodia
com muita dedicação
para te alegrar o dia
te aquecer o coração.

Sei que és minha amiga,
minha amiga de verdade,
e o melhor desta vida
é ter a tua amizade.

Conta comigo
a todo o momento,
seja de alegria
ou de sofrimento.

Quando a tristeza te invadir
e não conseguires suportar
tens-me a mim para te ouvir
tens o meu ombro para chorar

Posso-te falar
sempre que preciso,
diz-mo o teu olhar,
diz-mo o teu sorriso.

És um hino à amizade,
símbolo de sabedoria,
no teu ar de humildade,
sem sombra de hipocrisia.

Por isso,
foi só para ti, amiga
que eu fiz esta cantiga!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Tu (natureza)


Tu
és a noite
e a luz
és a brisa do mar
És luar e lua
és o sol a brilhar

Encerras em ti
a fonte da vida
o segredo da morte
os elementos do bem
do mal e da sorte

Tu
és vento
e és fogo
és nascente na terra
És o céu
e as estrelas
és a paz e a guerra

Tens ternura de arco-íris
e raiva de furacão
és natureza inacabada
sempre em transformação

Tu
és flor a morrer
és semente a florir
és o ser e o não ser
num eterno devir

Era uma vez uma flor...


Era uma vez uma flor
elegante e perfumada
símbolo de liberdade
promessa de alvorada

Não tinha um nome qualquer
de homem ou de mulher…

Não tinha nome de rosa,
acácia ou margarida,
era alegre e orgulhosa
com cor de sangue e de vida

Não poderia ser jacinto
amor-perfeito, absinto...

Foi um cravo encarnado
com beleza sem igual,
que acordou Portugal
nesse Abril tão desejado!

Só que o tempo, ao passar,
faz muita coisa mudar...

Também o cravo passou
a ser flor entre as demais,
logo que Abril murchou,
e, com ele, os ideais.

Onde estarás tu agora
ó cravo primaveril?
não deixes que deitem fora
os nossos sonhos de Abril!
(in letras dispersas)

O sonho especial


Hoje tive um sonho
um sonho especial
sonhei que conheci
um ser celestial

Era um ser de luz
vestido de energia
que me acolheu
com toda a simpatia

Pegou-me na mão
pediu que o seguisse
disse que me mostrava
tudo o que eu pedisse

Resolvi aproveitar
este encontro impossível
para tentar desvendar
tudo o que é invisível

Pedi que me dissesse
a cor do pensamento
e o que o faz correr
ainda mais do que o vento

As cores da amizade
e da imaginação
o tom da igualdade
a cor da ilusão

Quis saber também
se tinha algum plano
para ajudar o mundo
a tornar-se mais humano

Fiz ainda perguntas
sobre outros mistérios
que envolvem a terra
e os seus hemisférios

Tudo quis saber
tudo perguntei
ele ia responder
mas eu acordei
Ana de Fátima Janeiro (in letras dispersas)

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Sombra e luz



Se os horizontes se fecham
e as nuvens não deixam
chegar até nós a luz,
o pesadelo acontece,
a alma entristece,
nada nos seduz.

Sai o medo da sombra,
nada mais faz sentido,
há uma ameaça de bomba
ao mais pequeno ruído.

É o mundo a cair
sobre os nossos ombros,
teremos que sair
de debaixo dos escombros.

Se ninguém nos vier salvar
da sombra que nos invade,
como iremos encontrar
de novo a claridade ?

A nossa auto-estima
lá vai tacteando
na escuridão,
enquanto lastima
e vai esperando
que as nuvens se vão...

Se eu soubesse


Se eu soubesse escrever
como os grandes autores
das obras que já li
escrevia sobre os amores
e tudo o que já vivi

Escolhia um tema
e fazia um poema
que lia só para ti

Se eu soubesse pintar
comprava uma tela
e pintava o amanhecer
a paisagem mais bela
que se pode ver

Pintava uma flor
com a cor do amor
para te oferecer

Se eu soubesse compor
pegava numa pauta
e punha-me a inventar
a música mais bela
que se possa imaginar

Criava uma melodia
de amor e magia
para te dedicar

domingo, 3 de junho de 2007

A nossa jangada


Em cada momento
de meditação
vivemos num mar
de pura ilusão
onde a esperança
se vai banhar
e impedir o sonho
de naufragar

Nesse oceano de fantasia
flutua um mundo à nossa imagem
onde os ventos são só aragem
e as tempestades são acalmia

E assim embalados
conseguimos soltar
os sonhos acorrentados
e sentir intensamente
o prazer de navegar
ao sabor da corrente
Numa imensa jangada
Só pelo sonho criada
E nesta quimera
por nós inventada
estará sempre à espera
a nossa jangada

Cabeça que sonha
transforma o real
em promessa risonha
de um mundo ideal

A nossa dimensão


Alguém disse um dia
que na sua ideia
nós não somos mais
do que um grão de areia

Só o olhar da mente
tem a percepção
de qual é realmente
a nossa dimensão

Somos um grão
dum imenso areal
e buscamos em vão
o nosso ideal

Mas no universo
na sua imensidão
não estamos sozinhos
se seguirmos os caminhos
no sentido inverso
da nossa solidão

Há que aprender
que só acompanhado
e com sabedoria
não se é arrastado
pela ventania

E que a verdade
não passa de um mito
que perseguiremos
até ao infinito

Cada ser isolado
é um grão disperso
que pode ser levado
pelo vento adverso

Manual de Instruções

Um dia iremos nascer
com um livro de instruções
que nos dirá o que fazer
em todas as situações

Com botões assinalados
desde a cabeça aos pés
ligados ou desligados
conforme as nossas marés

Se a vida correr mal
será fácil a solução
é só ir ao manual
e descobrir o botão

Sentiremos alegria
no lugar da solidão
desligando a apatia
e activando a paixão

Para um estudo aprofundado
desta invenção da ciência
não convém ter desligado
o botão da inteligência

Nesse livro milagroso
estará esquematizado
tudo o que é perigoso
e que deve ser evitado

Mas enquanto não o temos
o melhor é ir vivendo
do jeito que nós sabemos
com os erros aprendendo

Mesmo sem a perfeição
nunca estaremos sós
enquanto a imaginação
habitar dentro de nós

sábado, 2 de junho de 2007

Vem comigo


Vem comigo
ver o sol a nascer
vem sentir a calma
inundar-te a alma
e deixar -te levar
por essa beleza
do alvorecer

Vem comigo
assistir à chegada
da nova madrugada

Começar o dia
de forma diferente
sentindo a magia
vinda do oriente

Vem ver
como os pensamentos
se vão clareando
e como os sofrimentos
se vão dissipando
quase sem dares por isso
como por feitiço


Vem comigo
ver o sol a nascer

Vem comigo
ver o amanhecer

sexta-feira, 1 de junho de 2007

A caminhada

Destino by Salvador Dali

Passo a passo
devagarinho
faço e refaço
o meu caminho

Vem-me à memória
essa lenda antiga
onde os caminhantes
seguiam guiados
pelos rastos brilhantes
duma estrela amiga

Procuro sinais
no caminho que sigo
que me indiquem um cais
ou um porto de abrigo

Povoando as margens
vejo os dissidentes
por certo guiados
por estrelas cadentes

Dão voltas e voltas
ao seu desalento
como folhas soltas
dispersas pelo vento

E algo me diz
que para ser feliz
nesta caminhada
há que persistir
sem sair da estrada

Passo a passo
Devagarinho
Faço e refaço
O meu caminho
(in letras dispersas)